Desafios do cenário evangélico nacional
Muito se tem falado acerca do crescimento dos evangélicos em nosso país. As estatísticas são diversas e os números impressionam. Fala-se de 25, 30 e até 46 milhões de membros.
Que o crescimento quantitativo é real ninguém em sã consciência duvida, basta olharmos ao nosso redor para atestar o surgimento diário de novas frentes de trabalho das igrejas existentes, bem como de novas denominações.
Outro fator que comprova o acima exposto é o contínuo esforço da Igreja Católica Apostólica Romana para reduzir a perda de fiéis, bem como recuperar os que se afastaram.
Se nos alegramos com os números do crescimento quantitativo, por outro lado nos preocupamos com o crescimento qualitativo, que não ocorre na mesma proporção. Tal fenômeno não é inédito na história do Cristianismo, tendo também se evidenciado no IVséculo.
Como igreja cristã reformada, nossa denominação tem diante de si uma importante tarefa: esforçar-se pela expansão do evangelho nas terras brasileiras sem sacrifício da verdade ou qualquer tipo de barganha no campo da ética. Lamentavelmente algumas tendências nocivas têm se cristalizado no cenário evangélico de nosso país e dentre elas podemos citar:
Aversão ao estudo sistemático da Bíblia – Para muitos o aprofundamento doutrinário deve ser restrito aos especialistas (doutores e mestres), o povo só precisa do básico para o cumprimento de sua missão (adoração e evangelização). Segundo os defensores da forma de pensar acima, o conhecimento doutrinário causa soberba, divisão e esfriamento espiritual. Contudo, ao ler o livro de Atos somos informados sobre irmãos que “perseveravam na doutrina dos apóstolos” (At 2.42a), ou seja, guardavam, retinham, preservavam a instrução recebida e tinham-na na mais alta conta, e nem por isso deixaram de evangelizar, exercitar uma espiritualidade dinâmica e desenvolver a comunhão uns com os outros. O criterioso estudo das Escrituras sob a iluminação do Espírito do Senhor produz um conhecimento que gera temor, comunhão com Deus, amor pela evangelização, desejo de servir ao próximo e a maior glória de Deus.
Prosperidade material como evidência do novo nascimento – Em muitas comunidades ditas evangélicas em nossos dias, é comum a afirmação que o cristão não sofre, não adoece, não atravessa dificuldades financeiras, antes, por ser filho do Rei, desfruta aqui e agora, de maneira irrestrita, toda sorte de bens e delícias. A comunhão com Deus nesses lugares é aferida pela prosperidade e vitórias materiais alcançadas pelo frequentador. O fato de termos pessoas pobres em nossas comunidades, que sofrem de enfermidades, que atravessam dificuldades, que são perseguidas pelo exercício coerente da sua fé, não é sinal de que fomos abandonados por Deus ou somos cristãos de segunda classe, pois as lutas fazem parte da experiência humana. Na Bíblia temos diversos exemplos de homens, mulheres e comunidades fiéis a Deus que sofreram as mais variadas adversidades (2Rs 4.1-7; At 7.54-60; 12.1-2; 14.19; 16.19-24; 1Co 4.9-13; 2Co 11.24-28; Fp 2.25-30; 1Ts 1.6; 1Tm 5.23 e Hb 11.37-38).
Comportamento moral e ético influenciado pela sociedade – Tomando como referencial a prática de significativa parcela dos membros da sociedade, alguns evangélicos praticam atitudes reprováveis nos campos da moral e da ética, e quando questionados respondem com a maior naturalidade que “todo mundo faz assim”. Segundo a antropóloga Cristina Vital, do (ISER), a comunidade evangélica segue rumo à flexibilização na busca pela adaptação à sociedade. Não fomos chamados para a conformação com o presente século, antes fomos chamados para agirmos como elementos que promovem uma saudável transformação no contexto em que atuamos (Rm 12.1-2; Mt 5.14-16 e At 17.6b).
Certamente, abençoada por Deus, nossa amada denominação continuará contribuindo para o crescimento integral da fé evangélica em nosso país, sempre atenta aos padrões estabelecidos pelas Escrituras.
Rev. Jailto Lima do Nascimento