A virtude que promove a unidade cristã
A humildade é a virtude que promove a unidade cristã. A humildade é o remédio para os males que atacam a unidade da igreja. A palavra grega tapeinophrosyne é um termo cunhado pelo Cristianismo. Humildade era uma expressão carregada de opróbrio no pensamento grego, tendo conotações de “servilismo”, como nas atitudes de um homem vil ou de um escravo. Quase sempre entre os escritores gregos, “humildade” tem um significado negativo. Entre o povo de Deus, porém, a humildade é um imperativo, pois “Deus escarnece dos escarnecedores, mas dá graça aos humildes” (Pv 3.34). “Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes” (Tg 4.6) e o apóstolo Pedro ordena: “Humilhai-vos, portanto, sob a poderosa mão de Deus, para que ele, em tempo oportuno, vos exalte” (1Pe 5.5).
A humildade deve ser a marca do cristão, pois seu Senhor e Mestre foi “manso e humilde de coração” (Mt 11.29). Os discípulos de Cristo demoraram entender essa lição e muitas vezes discutiram quem devia ocupar a primazia entre eles. Nessas ocasiões, Jesus lhes dizia que maior é o que serve e que ele mesmo veio não para ser servido, mas para servir (Mc 10.45). Vejamos três fatos importantes para o entendimento deste tema:
1. O que é humildade? (Fp 2.3). A humildade provém do verdadeiro conhecimento de Deus e do correto conhecimento de nós mesmos. Enquanto a ambição e o preconceito arruínam a unidade da igreja, a genuína humildade a edifica. Ser humilde envolve ter uma correta perspectiva sobre nós mesmos em relação a Deus (Rm 12.3), que por sua vez nos coloca numa correta perspectiva em relação ao próximo. Jamais o orgulho prevalece no coração de alguém que conhece a Deus e a si mesmo.
2. Como a humildade se manifesta? (Fp 2.3,4). O apóstolo Paulo menciona duas manifestações da humildade.
A humildade olha para o outro com honra (Fp 2.3). No capítulo primeiro, Paulo colocou Cristo em primeiro lugar (Fp 1.21). Agora, coloca o outro acima do eu (Fp 2.3). Uma pessoa humilde não tem sede de fama, projeção e aplausos. Ela não se embriaga com o poder. Ela não busca os holofotes do palco nem corre atrás das luzes da ribalta. Uma pessoa humilde não canta “quão grande és tu” diante do espelho.
A humildade busca o interesse do outro com solicitude (Fp 2.4). A igreja de Filipos era multirracial: Lídia era uma judia rica, a jovem liberta era uma escrava grega e o carcereiro era um oficial romano da classe média. Nessas condições não era fácil manter a unidade da igreja. Ter interesse em proteger os interesses alheios, porém, faz parte dos alicerces da ética cristã. No mundo cada um cuida primeiro de si, pensa somente em si e tem o olhar atento apenas para os próprios interesses. Os interesses dos outros estão fora de seu verdadeiro campo de visão. Por isso, tampouco, existe no mundo verdadeira comunhão, mas somente o medo recíproco e a ciumenta autodefesa contra o outro. Na irmandade da igreja de Jesus pode e deve ser diferente.
3. O supremo exemplo da humildade (2.5). Neste capítulo dois da carta aos filipenses, Paulo cita quatro exemplos de humildade, ou seja, colocar o “outro” na frente do “eu” (Fp 2.5; 2.17; 2.20; 2.30). Porém, o argumento decisivo de Paulo é o exemplo de Cristo (Fp 2.5). O exemplo de Cristo é sempre o argumento supremo de Paulo na exortação ética, principalmente quando trata do interesse altruísta pelo bem-estar do próximo. Se o exemplo de Cristo deve ser seguido, é melhor, então, manter maior interesse pelos direitos dos outros e pelos nossos deveres, do que cuidar principalmente de nossos direitos e dos deveres dos outros.
O texto que registra a encarnação, esvaziamento, humilhação, obediência, morte e exaltação de Cristo não é uma peça doutrinária escrita por um teológico de gabinete que está traçando reluzentes verdades doutrinárias contra o nevoeiro denso das heresias, mas foram escritas por um homem que, com humildade e amor lutava pela verdadeira concórdia de seus irmãos. Essas frases, com todo o seu teor dogmático são parte dessa luta. A leitura correta deste magno texto Cristológico não é apenas aquela que trata da humilhação e exaltação do Filho de Deus, mas a que abala nosso coração egoísta e vaidoso por meio da trajetória seguida por Jesus.
Rev. Hernandes Dias Lopes