A igreja fora dos portões
Os profetas, Jesus e os apóstolos pregaram nas ruas, nas praças, fora dos portões. Eles percorriam as cidades, as vilas, os campos. Estavam onde o povo estava. A missão deles era principalmente centrífuga, para fora dos portões. Hoje, concentramos nossas atividades no templo. Invertemos a ordem. Em vez de irmos lá fora, onde as pessoas estão, queremos que elas venham a nós, onde nós estamos. Nosso testemunho tornou-se intramuros. Nossa missão tornou-se centrípeta, para dentro.
Em vez de irmos ao fundo para lançarmos as redes para pescar, estamos pescando no raso. Fazemos uma pesca de aquário. Multiplicamos nossos esforços para fazermos demorados treinamentos, mas não colocamos em prática o que aprendemos. Fazemos congressos e conferências para aumentarmos nosso cabedal teológico, mas esse conhecimento não se traduz em ação missionária. Cruzamos mares e atravessamos fronteiras para adquirirmos o melhor conhecimento, mas guardamos isso para nós mesmos, para o nosso próprio deleite intelectual. Estamos esticando o nosso cérebro, mas atrofiando os nossos músculos. Conhecemos muito e exercitamos pouco. Sabemos muito e realizamos pouco. Reunimo-nos muito para edificarmos a nós mesmos e saímos pouco para repartirmos o que recebemos. Discutimos muito as doutrinas da graça e anunciamos pouco as boas novas do evangelho.
A discussão é oportuna na defesa do evangelho, mas para alcançarmos os pecadores, precisamos ir além e pregarmos a eles o evangelho. A fé vem pelo ouvir e ouvir o evangelho. O evangelho é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê. Muito embora, nossas atividades no templo sejam ricas oportunidades para trazermos pessoas para ouvirem o evangelho, nossa agenda não pode ser limitada apenas à essas atividades. O projeto de Deus é o evangelho todo, por toda a igreja, em todo o mundo. Cada crente deve ser um missionário em sua escola, em seu trabalho, em sua parentela, entre seus amigos. Cada igreja local precisa alcançar com o evangelho o seu bairro, a sua cidade, a sua nação e até mesmo ir além fronteiras. Nossas ações precisam ser deliberadamente focadas na proclamação do evangelho fora dos portões e no discipulado das pessoas alcançadas.
Se não investirmos nosso tempo na obra, vamos nos distrair com outras coisas periféricas. Se não gastarmos nossa energia no trabalho, vamos gastá-la em embates acirrados, discutindo opiniões e preferências. Crente que não trabalha, dá trabalho. Igreja que não evangeliza, precisa ser evangelizada. A igreja é uma agência missionária ou um campo missionário. Muitas igrejas hoje capitularam-se ao comodismo. Fazem um trabalho apenas de manutenção. Estão estagnadas. Não crescem nem têm propósito de crescer. Preferem criar desculpas teológicas para justificar sua covarde omissão. Há denominações históricas na Europa e na América que estão perdendo cerca de dez por cento de sua membresia a cada ano. Há igrejas que já abandonaram o genuíno evangelho e perderam a mensagem. Há igrejas que já perderam o fervor e não proclamam mais, no poder do Espírito, a mensagem da graça. Há igrejas que, embora tenham uma sólida firmeza doutrinária, possuem um pífio desempenho missionário. Oh, que Deus desperte nessa geração uma igreja fiel e relevante, uma igreja que ora com fervor e evangeliza com entusiasmo, uma igreja que edifica os salvos e busca os perdidos. Oh, que Deus derrame sobre nós o poder do seu Espírito! Oh, que Deus revista sua igreja de poder para viver e para pregar! Oh, que Deus traga sobre nós paixão pelas almas e nos tire do comodismo das quatro paredes e nos leve para fora dos portões!
Rev. Hernandes Dias Lopes