Providência carrancuda, face sorridente
A frase em epígrafe é de William Cowper, compositor inglês, que enfrentou severas crises de depressão. Muitas vezes chegou a ponto de atentar contra sua própria vida, em virtude da doença. Mesmo nesse vale sombrio, escreveu hinos traduzidos e cantados no mundo inteiro. Uma de suas expressões mais eloquentes, que tem confortado milhões de pessoas é esta: “Por trás de toda providência carrancuda, esconde-se uma face sorridente”.
Muitas vezes, as circunstâncias são pardacentas, sombrias e amargas. Perdas financeiras, luto na família, enfermidade crônica, casamento abalado, amizades rompidas. Muitas vezes, o mar da vida se revolta e parece impossível navegá-lo. Há momentos em que somos assolados por pressões externas e temores internos. Somos ameaçados por laços de morte e atormentados com angústias do inferno. Porém, mesmo que essas circunstâncias sejam carrancudas, esconde-se atrás delas a face sorridente de Deus. O fato de estarmos no miolo da tempestade não significa que Deus está indiferente à nossa dor. O fato de não vermos nem sentirmos a presença de Deus não significa que ele está ausente. O fato de vermos as circunstâncias se agravando contra nós, não significa que Deus está inativo. Na verdade, nessas horas mais sombrias, Deus está trabalhando em nosso favor, transformando vales em mananciais, choro em alegria, noites escuras em manhãs iluminadas. Mesmo que você não veja nem sinta, Deus está no controle e está trabalhando para o seu bem.
Nessa mesma linha de pensamento, o apóstolo Paulo escreveu: “Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito” (Rm 8.28). Paulo não trata aqui de uma especulação, mas de uma convicção. Não usa a linguagem da conjectura hipotética, mas da certeza experimental. Nós, de igual forma, sabemos que todas as coisas e não apenas algumas delas cooperam para o nosso bem. Isso não significa que todas as coisas que acontecem conosco são coisas boas. O próprio Paulo foi perseguido em Damasco, rejeitado em Jerusalém, apedrejado em Listra, açoitado em Filipos, escorraçado de Tessalônica, chamado de tagarela em Atenas e de impostor em Corinto. Paulo enfrentou naufrágios, recebeu cento e noventa e cinco açoites dos judeus, foi fustigado com varas e preso em Jerusalém, Cesaréia e Roma. Mas, diante dessas turbulências todas, escreveu: “Quero ainda, irmãos, cientificar-vos de que as coisas que me aconteceram têm antes contribuído para o progresso do evangelho” (Fp 1.12).
Às vezes, nós olhamos para a nossa vida pelo avesso. Parece que nada faz sentido. Tudo está de ponta-cabeça. Nessas horas, porém, Deus está trabalhando como um tapeceiro, coordenando todas essas circunstâncias adversas, a fim de que tudo contribua para o nosso bem. Não somos governados pelo acaso nem pelo determinismo. Não somos regidos pela sorte nem pelo azar. Deus dirige o nosso destino. As rédeas da nossa vida estão nas mãos daquele que está assentado na sala de comando do universo. Ele trabalha para aqueles que nele esperam. O fim dessa jornada não é o fracasso, mas a glória. Não marchamos rumo a um ocaso sombrio; caminhamos para o alvorecer de uma eternidade gloriosa. Receberemos um corpo imortal, incorruptível, poderoso e glorioso. Tomaremos posse da nossa herança imarcescível e reinaremos com Cristo. Nada nem ninguém, neste mundo nem no porvir, poderá nos separar desse amor. Agora, pode existir pranto e dor, mas, depois, haverá consolo e alegria indizível. Hoje, choramos e gememos, mas, depois, Deus enxugará dos nossos olhos toda a lágrima. Agora, a providência é carrancuda, mas, depois, veremos, para todo o sempre, a face sorridente de Deus!
Rev. Hernandes Dias Lopes