Quando o amor está mal direcionado
“Sabe, porém, isto: nos últimos dias, sobrevirão tempos difíceis, pois os homens serão egoístas, avarentos […], mais amigos dos prazeres que amigos de Deus” (2Tm 3.1,2,4).
Quero destacar três palavras mencionadas pelo apóstolo Paulo nesta passagem que retratam os males e a corrupção dos últimos dias. A decadência da sociedade é resultado da inversão de valores. Paulo diz que as pessoas direcionam o seu amor para si mesmas, para o dinheiro e para os prazeres. Na língua grega, Paulo usa três palavras que retratam o amor às avessas: filautós, filarguros e filedonos. Esses são ainda os três maiores problemas da sociedade: poder, dinheiro e sexo. Vejamos:
Em primeiro lugar, filautós (2Tm 3.2). A palavra grega filautós significa literalmente “amante de si mesmo”. Esse é o retrato de uma pessoa egoísta. Uma pessoa egoísta é aquela que ama a si mesma acima de todos e além de tudo. O mundo dela está centrado nela mesma. Vive para si mesma e espera que todos também vivam para fazer sua vontade. Uma pessoa egoísta é aquela que, por venerar a si mesma, como seu próprio ídolo, usa as pessoas em vez de servi-las. Um filautós é um narcisista, que ao contemplar seu próprio rosto, apaixona-se por si mesmo. Esse egoísmo exacerbado é a fonte de todas as mazelas da sociedade, a causa de muitos casamentos desfeitos e a razão principal do adoecimento de muitos relacionamentos, nas mais diversas esferas da vida.
Em segundo lugar, filarguros (2Tm 3.2). A palavra grega filarguros significa literalmente “amante da prata”, ou seja, amante do dinheiro. O dinheiro é o ídolo mais adorado neste século. As pessoas matam, morrem, casam-se e se divorciam por causa do amor ao dinheiro. Essa veneração ao dinheiro é o motivo pelo qual muitos ricos não se contentam com sua riqueza e, jeitosamente, saqueiam o pouco do pobre para se locupletarem. Esse amor ao dinheiro é a causa de sentenças serem vendidas nos tribunais, a razão da corrupção galopante na política, nas empresas públicas e privadas, bem como no comércio, na indústria e até mesmo nas igrejas. O amor ao dinheiro é a raiz de todos os males. Muitos nessa cobiça destroem a si mesmos, pensando que o dinheiro pode dar-lhes felicidade e segurança. Quem ama o dinheiro dele nunca se farta. Quem põe seu coração nas riquezas torna-se escravo delas para servi-las como a um súdito. A palavra filarguros foi traduzida por “avarento”. O avarento é o indivíduo que só pensa em si e jamais no próximo. Usa seu dinheiro apenas para seu próprio deleite, pois desconhece o que é generosidade. Busca apenas os seus próprios interesses e jamais o que é dos outros. Constrói apenas para si mesmo, mesmo que para isso, precise tomar o que é dos outros. O avarento é um idólatra. Seu deus é o dinheiro. Nesse altar profano, ele arruína sua própria vida, destrói sua própria alma e ainda torna a vida de seu próximo um pesadelo.
Em terceiro lugar, filedonos (2Tm 3.4). A palavra grega filedonos significa literalmente “amante dos prazeres”. Depois de Paulo falar do amor a si mesmo e do amor ao dinheiro, agora fecha essa lista de pecados degradantes da sociedade com o amor ao prazer. O mundo torna-se mais e mais hedonista. A busca do prazer tornou-se o objetivo último de muitas pessoas. Elas buscam o prazer como o principal sentido da vida. Seu deus é o prazer. Sua filosofia de vida é: “comamos e bebamos, porque amanhã morreremos”. O filedonos é o indivíduo que se embriaga com os prazeres carnais. Bebe todas as taças de sua própria luxúria. Vive correndo, sofregamente, atrás de novas aventuras. Empanturra-se de vícios nocivos, embrenhando-se pelos corredores lôbregos da imoralidade e das diversões carnais. O apóstolo Paulo, ao radiografar a sociedade de seu tempo, diz que os homens eram mais amantes dos prazeres que amigos de Deus. Não é esse, também, o retrato de nosso tempo? Que Deus tenha misericórdia de nós, a fim de que amemos o próximo em vez de sermos egoístas; sejamos generosos em vez de sermos avarentos; e sejamos amigos de Deus em vez de sermos amantes dos prazeres.
Rev. Hernandes Dias Lopes