Não fale mal do seu próximo
“Não dirás falso testemunho contra o teu próximo” (Ex 20.16).
O nono mandamento da lei de Deus trata de nosso compromisso com a verdade. A segunda tábua da lei, com respeito ao amor ao próximo, estabelece nosso dever de honrar pai e mãe, respeitar a vida, a honra, os bens, o nome e a casa do próximo. O mandamento em tela enseja-nos algumas lições, que passamos a destacar:
1. O falso testemunho é uma inversão da verdade. O falso testemunho não é apenas uma negação da verdade, mas uma inversão dela. Não é apenas calar-se quando as palavras são necessárias, mas abrir a boca para falsear a verdade, com o propósito de desconstruir a imagem daquele que deveria ser alvo do nosso amor. O falso testemunho é usar um dom precioso, o dom da palavra, para arruinar e não para edificar, para entenebrecer o entendimento em vez de lançar luz nas trevas. O falso testemunho é uma mentira que tenta se travestir de verdade no tribunal, com o fim de enganar a opinião pública. O falso testemunho é uma conspiração contra Deus, contra a lei e contra o próximo.
2. O falso testemunho é um atentado contra o nome do próximo. O falso testemunho é doloso, pois, como flecha venenosa, fere o próximo e impõe-lhe o maior dos sofrimentos, a mácula de sua honra e o maior dos prejuízos, a perda de seu nome. Se o bom nome vale mais do que riquezas, ter o nome enlameado por um falso testemunho é perder aquilo que é mais valioso do que os mais cobiçados tesouros. O nome de um homem é sua história, sua honra e seu principal patrimônio. Mais importante do que troféus e coroas é o nome. Mais importante do que ouro e prata é o nome. Mais importante do que a própria vida é o nome. Logo, conspirar contra o nome de alguém é impor-lhe algo pior do que a própria morte. A quebra do nono mandamento é uma ofensa pessoal, um desatino social e uma subversão da ordem moral.
3. O falso testemunho é uma negação do amor que se deve ao próximo. O próximo deve ser amado e protegido e não atacado e ferido. O próximo deve ser alvo do mais intenso cuidado e afeto e não ser o fulcro da mais horrenda hostilidade. O próximo deve ser elogiado e abençoado e não ser vilipendiado com palavras mentirosas e tendenciosas. Amar Deus e ao próximo é o maior mandamento e o cumprimento da lei. Falar mal do próximo é atentar contra Deus, o criador e legislador. Falar mal do próximo é negar a ele o amor e flagelá-lo com o azorrague da língua. O falso testemunho é um pecado consciente e deliberado. As motivações que levam o homem a transgredir esse mandamento podem ser a inveja ou o ódio. Ambas são motivações rasteiras e subterrâneas. Ambas diagnosticam mais os defeitos morais de quem fala do que os supostos defeitos de quem é falado. O falso testemunho, portanto, mais do que macular a honra de quem é o alvo da denuncia falsa, macula o denunciador.
4. O falso testemunho produz estragos irreparáveis. O falso testemunho é um pecado perverso contra o próximo, pois palavras caluniosas são como flechas lançadas que não voltam mais. São como um saco de penas espalhadas do alto de um montanha que não podem mais ser recolhidas. Essa dívida nunca pode ser totalmente quitada. Esse mal nunca pode ser completamente reparado. As feridas feitas nunca podem ser completamente fechadas. Ainda que sejam curadas, ficam as cicatrizes. Oh, quão terrível é o falso testemunho! Quão desastrosos são os seus efeitos! Quantos vidas enlameadas! Quantas lágrimas vertidas! Quantos gemidos pungentes! Quantos nomes destruídos! Quantos injustiças sofridas! Que Deus nos livre desse pecado! Que Deus nos ajude a amar o próximo e falar bem dele, em vez de destruí-lo com nossa língua!
Rev. Hernandes Dias Lopes