Deus no banco dos réus
O mundo caminha a passos largos para o secularismo ateu. Cresce o número daqueles que não acreditam em Deus e também daqueles que odeiam a Deus. A fé cristã tem sido perseguida em todo o mundo como se fosse uma ameaça à humanidade. Cristãos têm sido presos, torturados e mortos pela sua fé. Outros têm sido escarnecidos nos meios acadêmicos como se a fé cristã fosse um parentesco da ignorância e um aliado do obscurantismo intelectual. A fé cristã e os valores cristãos têm sido tripudiados nas casas de leis, nas cortes dos governantes, na imprensa, na mídia e nas ruas. Vivemos um tempo de apostasia e de resistência à verdade.
Os filhos de Coré, no seu tempo, já enfrentavam esse ataque implacável. Assim, o salmista expressa: “Esmigalham-se-me os ossos, quando os meus adversários me insultam, dizendo e dizendo: O teu Deus, onde está?” (Sl 42.10). Os filhos de Coré, quando escreveram este salmo estavam encurralados por circunstâncias medonhas e seus adversários os colocavam contra a parede, o melhor, colocavam o seu Deus no banco dos réus. A providência era carrancuda. Os inimigos eram muitos. Os perigos ameaçadores. O livramento parecia impossível. Para agravar a situação, os adversários ainda os insultavam com uma pergunta insolente e perturbadora: Onde está o seu Deus? Por que ele não age? Por que não vem em seu socorro? Esta é a pergunta que os ímpios ainda fazem, para nos acuar. Onde está Deus num mundo onde prevalece a mentira, a falsidade, a injustiça, a violência, a opressão, a maldade, a promiscuidade e a falência dos valores morais? Se Deus existe, por que ele não se manifesta? Se ele é Todo-poderoso por que não prevalece contra essa torrente de maldade que assola a humanidade? Se ele é amor, por que permite que os justos sofram? Se Deus é real, por que não põe um fim nessa confusão mundial?
O Salmista responde a essas afrontas, afirmando sua confiança em Deus, apesar das circunstâncias adversas. Reconhece que Deus é soberano e não pode ser domesticado pelo homem. Sabe que Deus age não conforme a pressão dos homens, mas conforme a seu propósito e conselho eterno. Longe de se enfraquecer com o escárnio dos adversários, o salmista reafirma seu apego a Deus, quando diz: “Como suspira a corça pelas correntes das águas, assim, por ti, ó Deus, suspira a minha alma. A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo” (Sl 42.1,2). Longe de perder sua confiança em Deus, o salmista reafirma que Deus é seu auxílio. Num solilóquio profundo, ele diz: “Por que estás abatida, ó minha alma? Por que te perturbas dentro de mim? Espera em Deus, pois ainda o louvarei, a ele, meu auxílio e Deus meu (Sl 42.5). Longe de se afastar de Deus, chocado com as mazelas do mundo e com as acusações sofridas, reafirma sua confiança na infinita misericórdia de Deus. Assim ele escreve: “Contudo, o Senhor, durante o dia, me concede a sua misericórdia” (Sl 42.8). Longe de ceder aos ataques dos adversários e admitir que Deus perdeu o poder, reafirma, confiantemente, que Deus é a sua rocha. Diz o salmista: “Digo a Deus, minha rocha: Por que hei de andar eu lamentando sob a opressão dos meus inimigos?” (Sl 42.9). Longe de capitular-se à amargura contra Deus, reafirmou que Deus é o motivo do seu louvor: “Por que estás abatida, ó minha alma? Por que te perturbas dentro de mim? Espera em Deus, pois ainda o louvarei, a ele, meu auxílio e Deus meu” (Sl 42.11). O salmista está consciente de que o mal nem sempre é julgado na hora que é cometido. Os ímpios que escapam dos tribunais da terra terão que comparecer perante o tribunal de Deus, onde serão julgados retamente. Quanto aos justos, ainda que sofram agora, desfrutarão de bem-aventurança eterna. A verdade incontestável é: não é Deus quem está no banco dos réus; o homem é que terá que prestar contas da sua vida a Deus, o Juiz de vivos e de mortos.
Rev. Hernandes Dias Lopes