A IGREJA É SANTA

“Segui a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor,” (Hb12.14)

Para alguns, o título do editorial pode causar espanto e questionamento quanto à sua exatidão, porém ele está correto. Com razoável frequência escândalos são protagonizados por cristãos ou instituições cristãs e são amplamente divulgados pelos mais diversos órgãos de comunicação. A prática de ações condenadas pela Escritura não é algo novo no seio da Igreja Visível. Temos, no Novo Testamento, vários relatos de cristãos que, de forma individual ou coletiva, lamentavelmente cometeram graves e vergonhosas faltas (I Co 5.1; 6.6-8; Ap 2.5, 14-16, 20; 3.2, 15-16). Nós mesmos sabemos de nossas fraquezas e imperfeições e em sã consciência seria um absurdo afirmarmos que não temos cometido pecado – “Se dissermos que não temos pecado nenhum, a nós mesmos nos enganamos, e a verdade não está em nós. Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça. Se dissermos que não temos cometido pecado, fazemo-lo mentiroso, e a sua palavra não está em nós.’’ I Jo 1.8-10.

Como então é possível diante das informações acima, continuar crendo e ensinando que a Igreja é santa? A resposta não pode ser outra, senão porque a Bíblia assim afirma. E tal ensino encontra-se nos mais antigos credos cristãos, como o Credo Niceno (325) [revisado pelo Concilio de Constantinopla – 381]: “Cremos […] na Igreja una, santa…” e no Credo Apostólico “Creio […] na santa Igreja…”.

A Igreja é santa em razão de seu fundamento, Jesus Cristo – A santidade não pode ser adquirida ou produzida pelos fiéis, não é o resultado do labor ou esforço de quem quer que seja, antes é consequência dos méritos do Filho de Deus. O apóstolo Paulo expressa claramente tal verdade em sua Epístola aos Efésios – “Maridos, amai vossa mulher, como também Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela, para que santificasse, tendo-a purificado por meio da lavagem de água pela palavra, para a apresentar a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, porém santa e sem defeito.” (Ef 5.25-27.

A Igreja foi declarada justa diante de Deus como consequência da perfeita justiça de Cristo, que lhe foi imputada (Fp 3.9; I Pe 2.24), sendo também santificada por Cristo e acolhida na condição de família de Deus (I Jo 3.1).

A Igreja é santa, em razão do propósito imediato da predestinação – Ainda o apóstolo Paulo, escrevendo aos crentes em Éfeso, destaca de forma explicita e enfática que Deus “…nos escolheu, nele, antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante ele;… .” (Ef 1.4). Comentando o texto, João Calvino afirmou: “Desse fato inferimos que a santidade, a inocência, e assim toda e qualquer virtude que porventura exista no homem, são frutos da eleição. De modo que, uma vez mais, Paulo descarta expressamente toda e qualquer consideração de mérito [humano]…toda nossa santidade e pureza de vida emanam da eleição divina…destas palavras aprendemos ainda que a eleição não propicia ocasião à licenciosidade, ou à blasfêmia dos homens perversos que afirmam: “vivamos da maneira que nos agrade, porque, se já somos eleitos, é impossível que venhamos a perecer”. O apóstolo lhes afirma claramente que é uma atitude ímpia dissociar a santidade de vida da graça da eleição; porquanto, “a quem ele predestinou, a esse também chamou; e a quem ele chamou, a esse também justificou”.

Deus é santo (Ex 15.11; I Sm 2.2; Is 6.3, 57.15; Ap 4.8) e o seu povo eleito e particular não pode ser diferente (I Pe 1.15-16, I Pe 2.9-10), contudo nesta vida jamais atingiremos a perfeição. Equivocadamente, grupos dissidentes (cataristas, celestinos e donatistas) ensinaram ser possível alcançar plena perfeição aqui, o que a Bíblia não ratifica. Sobre o tema, D. Martyn Lloyd-Jones, afirmou: “Enquanto a Igreja caminha neste mundo de pecado e vergonha, ela se suja de lama e lodo. Portanto, há manchas e nódoas nela. E é muito difícil livrar-se delas. […] A Igreja não é limpa aqui, não é pura; embora esteja sendo purificada, ainda há muitas manchas nela.”

O caminho estabelecido pelo Supremo Pastor para o seu precioso Rebanho é o caminho da santificação diária, e isto não é opção, é uma determinação repleta de amor e cuidado. A correta motivação para a obediência a Deus é o “respeito à pureza do Legislador”.

Rev. Jailto Lima do Nascimento

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *