O PERIGO DO AUTOENGANO

Há lobos que se disfarçam de ovelhas, para devorar as ovelhas.  Há hipócritas que fazem propaganda de virtudes que não têm, para arrancar aplauso dos homens. Há filhos ingratos que tratam seus progenitores com crueldade para cavar uma cova para seus próprios pés. Em Provérbios 30.11-14, o sábio Agur apresenta quatro situações de autoengano:

            Em primeiro lugar, o engano da ingratidão perversa (Pv 30.11). “Há daqueles que amaldiçoam a seu pai e que não bendizem a sua mãe”. Há aqui um pecado de comissão e outro de omissão. Esses filhos perversos amaldiçoam seu pai e não bendizem sua mãe. Ao pai, agem com crueldade; à mãe, com ingratidão. Dão ao pai o que ele não merece, e não dão à mãe, o que ela merece. Os filhos que assim procedem pensam estar destruindo a vida dos pais, mas, na verdade, estão cavando uma cova para seus próprios pés. O mal que lançam sobre o pai cai em sua própria cabeça; o bem que não endereçam à mãe, não o alcançam.

            Em segundo lugar, o engano da santidade inexistente (Pv 30.12). “Há daqueles que são puros aos próprios olhos e que jamais foram lavados da sua imundícia”. Julgar-se santo e tocar trombetas sobre a pureza pessoal sem ser lavado de sua imundícia é um lego engano. Na verdade, é uma miopia espiritual em estado avançado. Só aqueles que vivem na escuridão não veem suas próprias máculas. Só aqueles que andam longe de Deus fazem propaganda de sua pureza pessoal. Quanto mais perto de Deus o homem anda, mais consciência ele tem de sua impureza. Os homens mais santos foram os que mais reconheceram seus pecados e mais choraram por eles. Jó, quando contemplou a Deus, disse: “Por isso, me abomino e me arrependo no pó e na cinza”. Isaías, quando contemplou a Deus em sua santidade, disse: “Estou perdido! Porque sou homem de lábios impuros…”. Cuidado com a síndrome da santarronice. Acautele-se com o perigo do farisaísmo que consegue diagnosticar um cisco nos olhos dos outros, mas não uma enxerga uma trave em seus próprios olhos.

            Em terceiro lugar, o engano do orgulho desmedido (Pv 30.13). “Há daqueles – quão altivos são os seus olhos e levantadas as suas pálpebras!”. Há pessoas que se julgam melhores do que os outros. Não hesitam em se comparar com outras pessoas apenas para enaltecer suas pretensas virtudes e desmerecer o próximo. Há aqueles que estufam o peito, levantam o nariz e mantêm os olhos altivos, sentindo-se superiores aos demais. São soberbos, arrogantes e altivos. Sobem ao pináculo de seu castelo de areia só para acender os holofotes sobre si mesmos, baterem palmas para si mesmos, fazerem propaganda de si mesmos. O orgulho está na raiz do pecado. Foi a causa da queda dos anjos e dos homens. Deus resiste ao soberbo. A soberba precede a ruína. Só os tolos se julgam melhores do que os outros. Só os néscios tocam trombetas para propagar seus predicados morais ou suas obras beneméritas. Só aqueles que não conhecem a Deus nem a si mesmos cometem tal loucura.

            Em quarto lugar, o engano da crueldade desumana (Pv 30.14). “Há daqueles que cujos dentes são espadas, e cujos queixais são facas, para consumirem na terra os aflitos e os necessitados entre os homens”. Infeliz é o homem que tenta construir seu sucesso sobre os escombros de seu semelhante. Miserável é o destino daqueles que veem o ser humano, na sua aflição, e aproveita de sua desdita para enfiar-lhe a espada no peito e esfaqueá-lo com suas mandíbulas, com o propósito consumir na terra os aflitos e os necessitados. Trágico é o destino daqueles que constroem sua casa com sangue e acumula suas riquezas com opressão. A crueldade que destilaram dos dentes voltará contra eles mesmos. O mal que semearam cairá sobre sua própria cabeça. O vento que lançaram sobre os aflitos virá como uma tempestade sobre sua própria casa!

Rev. Hernandes Dias Lopes

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